A Guerra Fria, período que se estendeu de 1947 a 1991, foi marcada pelo confronto ideológico, político, econômico e militar entre dois modelos políticos diametralmente opostos: o capitalismo, liderado pelos Estados Unidos, e o socialismo, liderado pela União Soviética. Embora nunca tenha resultado em um confronto militar direto entre as duas superpotências, a Guerra Fria envolveu uma série de conflitos indiretos, competições tecnológicas e disputas territoriais que impactaram o mundo inteiro.
O modelo capitalista defendido pelos Estados Unidos era baseado na economia de mercado, propriedade privada e democracia liberal. Os EUA buscavam promover esses valores globalmente, argumentando que a liberdade econômica e política eram essenciais para o progresso e a prosperidade. Por outro lado, a União Soviética defendia o socialismo, com uma economia planificada, propriedade coletiva dos meios de produção e um regime de partido único, controlado pelo Partido Comunista. Os soviéticos acreditavam que o socialismo era o caminho para eliminar as desigualdades sociais e garantir justiça para todos.
A tensão entre esses dois modelos tornou-se evidente logo após a Segunda Guerra Mundial, com o início da Doutrina Truman, que visava conter a expansão do comunismo em todo o mundo. A política de contenção dos Estados Unidos levou à formação de alianças militares, como a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e ao apoio a governos anticomunistas em várias partes do mundo. Em resposta, a União Soviética estabeleceu o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar entre os países socialistas do Leste Europeu.
Um dos aspectos mais notórios da Guerra Fria foi a corrida armamentista, especialmente o desenvolvimento de armas nucleares. Ambas as superpotências acumularam vastos arsenais nucleares, levando o mundo à beira da destruição mútua garantida. Este equilíbrio de terror, no entanto, evitou um confronto direto entre EUA e URSS, criando uma paz tensa, mas estável.
A Guerra Fria também se manifestou em conflitos regionais, conhecidos como "guerras por procuração". Exemplos incluem a Guerra da Coreia (1950-1953), a Guerra do Vietnã (1955-1975) e a Guerra Soviético-Afegã (1979-1989). Nessas guerras, os EUA e a URSS apoiaram lados opostos, fornecendo armas, recursos e, em alguns casos, tropas, sem se confrontarem diretamente. Esses conflitos intensificaram a rivalidade entre as superpotências e resultaram em grande sofrimento e destruição nos países afetados.
Outro campo de batalha simbólico da Guerra Fria foi a corrida espacial. O lançamento do satélite soviético Sputnik em 1957 e a missão Apollo 11 dos EUA, que levou o homem à Lua em 1969, exemplificam a competição tecnológica e científica entre as superpotências. Para ambos os lados, o sucesso no espaço era visto como uma demonstração de superioridade do seu modelo político e econômico.
A Guerra Fria também teve um impacto profundo nas sociedades de todo o mundo, incluindo a cultura, a educação e a propaganda. Filmes, livros, programas de rádio e televisão foram usados por ambos os lados para promover suas ideologias e demonizar o adversário. A ameaça constante de uma guerra nuclear também criou uma atmosfera de medo e desconfiança em muitas partes do mundo.
O fim da Guerra Fria foi precipitado por uma série de fatores, incluindo o enfraquecimento econômico da União Soviética, reformas políticas como a glasnost e a perestroika, e a crescente insatisfação nas repúblicas soviéticas e estados satélites. A queda do Muro de Berlim em 1989 simbolizou o colapso do bloco socialista na Europa, e, em 1991, a União Soviética foi oficialmente dissolvida, marcando o fim da Guerra Fria e deixando os Estados Unidos como a única superpotência global.
Em resumo, a Guerra Fria foi um período de intenso confronto entre dois modelos políticos globais, que moldou grande parte do século XX. Embora nunca tenha resultado em uma guerra direta entre as superpotências, suas consequências foram sentidas em todo o mundo, com legados que continuam a influenciar as relações internacionais até hoje.
A Revolução Chinesa, culminada em 1949 com a vitória do Partido Comunista Chinês liderado por Mao Zedong, foi um dos eventos mais significativos do século XX, alterando profundamente o equilíbrio de poder na Ásia e no mundo. A revolução resultou na criação da República Popular da China, um Estado socialista que se alinhou inicialmente com a União Soviética no contexto da Guerra Fria. No entanto, apesar da aliança inicial entre China e Rússia (então União Soviética), as tensões entre os dois países se desenvolveram rapidamente, resultando em um racha que teve impactos duradouros na política global.
A Revolução Chinesa foi precedida por décadas de instabilidade, guerra civil e intervenção estrangeira. Após a queda da dinastia Qing em 1911, a China entrou em um período de fragmentação, com senhores da guerra, nacionalistas e comunistas competindo pelo poder. A guerra civil entre o Kuomintang (Partido Nacionalista), liderado por Chiang Kai-shek, e o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Zedong, foi interrompida temporariamente pela invasão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial, mas recomeçou com força total após o fim do conflito. Em 1949, os comunistas emergiram vitoriosos, e Chiang Kai-shek fugiu para Taiwan, onde estabeleceu um governo rival.
Inicialmente, a China comunista e a União Soviética mantiveram uma aliança estreita. O apoio soviético foi crucial para a vitória comunista na China, e, em 1950, os dois países assinaram o Tratado de Amizade, Aliança e Assistência Mútua. No entanto, divergências ideológicas e estratégicas logo começaram a surgir. Mao Zedong, apesar de admirar o modelo soviético, tinha uma visão particular do socialismo que enfatizava a revolução contínua e o papel central do campesinato, em contraste com a ênfase soviética na classe operária urbana e na estabilidade.
As tensões entre China e União Soviética se agravaram na década de 1960, quando o líder soviético Nikita Khrushchev denunciou as políticas de Joseph Stalin e adotou uma postura de "coexistência pacífica" com o Ocidente. Mao Zedong criticou duramente Khrushchev, acusando-o de revisionismo e traição ao marxismo-leninismo. Essa rivalidade ideológica se transformou em uma ruptura aberta, conhecida como a Cisma Sino-Soviético, que dividiu o movimento comunista global e levou a confrontos fronteiriços entre os dois países.
Um dos episódios mais tensos ocorreu em 1969, quando a China e a União Soviética se enfrentaram em uma série de escaramuças ao longo do rio Ussuri, na fronteira entre os dois países. Esses confrontos quase levaram a uma guerra em larga escala e demonstraram a profundidade das tensões entre Pequim e Moscou. A partir desse momento, a China começou a se distanciar cada vez mais da União Soviética e procurou melhorar suas relações com o Ocidente, culminando na histórica reaproximação com os Estados Unidos em 1972, quando o presidente Richard Nixon visitou a China.
As tensões sino-soviéticas tiveram implicações significativas para a geopolítica global. O racha entre os dois maiores países comunistas do mundo enfraqueceu o movimento comunista internacional e alterou o equilíbrio de poder na Guerra Fria. Além disso, a deterioração das relações sino-soviéticas abriu espaço para que a China emergisse como uma potência independente, capaz de jogar um papel estratégico entre o Oriente e o Ocidente.
Em resumo, a Revolução Chinesa não só transformou a China em uma república socialista, como também gerou tensões profundas com a União Soviética, seu antigo aliado. Essas tensões, alimentadas por diferenças ideológicas e disputas territoriais, resultaram em um cisma que moldou a política global durante a segunda metade do século XX.
A Revolução Cubana, que culminou na ascensão de Fidel Castro ao poder em 1959, foi um dos eventos mais significativos da Guerra Fria na América Latina. Esta revolução não apenas transformou Cuba em um estado socialista, mas também provocou um longo período de tensões e conflitos entre Cuba e os Estados Unidos, que moldaram a política regional e global nas décadas seguintes.
Antes da revolução, Cuba era um país com forte influência dos Estados Unidos, tanto econômica quanto politicamente. O governo de Fulgencio Batista, apoiado por Washington, era visto como um regime corrupto e repressivo, que beneficiava a elite cubana e os interesses americanos enquanto a maioria da população vivia na pobreza. Fidel Castro, junto com outros revolucionários como Che Guevara, liderou uma guerrilha que prometia justiça social, reforma agrária e a expulsão da influência estrangeira. Após anos de luta, a revolução triunfou em 1º de janeiro de 1959, quando Batista fugiu de Cuba, e Castro assumiu o controle do país.
Imediatamente após a revolução, as relações entre Cuba e os Estados Unidos começaram a se deteriorar. As reformas radicais implementadas por Castro, incluindo a nacionalização de empresas americanas e a redistribuição de terras, alarmaram Washington, que temia a expansão do comunismo na América Latina. Em resposta, os Estados Unidos impuseram um embargo econômico a Cuba em 1960, na tentativa de isolar e enfraquecer o governo revolucionário.
As tensões aumentaram significativamente em 1961, quando a CIA organizou e apoiou uma invasão fracassada de Cuba por exilados cubanos anticastristas na Baía dos Porcos. Este evento consolidou o apoio interno a Castro e empurrou Cuba ainda mais para a órbita soviética, resultando na aliança entre Cuba e a União Soviética. Essa aliança culminou na Crise dos Mísseis de 1962, o momento mais perigoso da Guerra Fria, quando o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear. A descoberta de mísseis nucleares soviéticos em solo cubano levou a um confronto direto entre os Estados Unidos e a União Soviética, que foi resolvido por meio de negociações intensas, resultando na remoção dos mísseis em troca da promessa americana de não invadir Cuba e da remoção secreta de mísseis americanos da Turquia.
Mesmo após a Crise dos Mísseis, as tensões entre os Estados Unidos e Cuba permaneceram elevadas. O embargo econômico, que se tornou permanente, causou dificuldades econômicas significativas para Cuba, mas também permitiu a Castro consolidar o poder, apresentando-se como um líder resistente ao imperialismo americano. Durante a Guerra Fria, Cuba se tornou um importante aliado da União Soviética, recebendo apoio econômico e militar em troca de seu papel estratégico no Hemisfério Ocidental.
As relações entre os dois países continuaram a ser marcadas por confrontos ideológicos e tentativas de sabotagem. A CIA esteve envolvida em várias tentativas de assassinar Fidel Castro, enquanto Cuba apoiou movimentos revolucionários e governos socialistas em toda a América Latina e África, antagonizando ainda mais Washington. Com o colapso da União Soviética em 1991, Cuba perdeu seu principal apoio econômico, mergulhando o país em uma crise profunda conhecida como o "Período Especial". No entanto, mesmo com a queda do socialismo na Europa, as tensões entre Cuba e os Estados Unidos persistiram.
Somente no final dos anos 2000 e na década de 2010 houve uma tentativa de reaproximação, culminando na restauração das relações diplomáticas em 2015, sob a presidência de Barack Obama. No entanto, as tensões não foram completamente resolvidas, e o embargo permanece em vigor. A Revolução Cubana continua a ser um símbolo de resistência para alguns e de repressão para outros, mas seu impacto nas relações entre Estados Unidos e Cuba é inegável.
O século XIX foi marcado por profundas transformações políticas, sociais e intelectuais na Europa. O nacionalismo emergiu como uma das forças mais poderosas deste período, impulsionando revoluções e a formação de novas nações europeias. Ao mesmo tempo, o pensamento e a cultura do século XIX foram influenciados por novas teorias científicas e ideológicas, como o darwinismo e o racismo, que moldaram as concepções de identidade e hierarquia social.
O nacionalismo no século XIX surgiu como uma resposta às revoluções políticas e sociais que varreram a Europa no final do século XVIII e início do século XIX, como a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas. Essas revoluções despertaram o sentimento de identidade nacional e a busca pela autodeterminação entre diversos povos europeus. Movimentos nacionalistas ganharam força na Itália, Alemanha, Grécia e em outras regiões, desafiando os antigos impérios multinacionais e promovendo a unificação ou independência de nações baseadas em laços étnicos, culturais e linguísticos.
Na Itália, o processo de unificação, conhecido como Risorgimento, foi liderado por figuras como Giuseppe Garibaldi e Camillo di Cavour, que lutaram para consolidar os diversos estados italianos em um único reino. Na Alemanha, a unificação foi alcançada sob a liderança do chanceler Otto von Bismarck, que utilizou uma combinação de diplomacia e guerra para unificar os estados alemães sob a hegemonia prussiana. Esses processos de unificação resultaram na criação de nações modernas e poderosas, que alteraram o equilíbrio de poder na Europa.
Paralelamente, o século XIX foi um período de intensas mudanças intelectuais e culturais. A teoria da evolução, proposta por Charles Darwin em "A Origem das Espécies" (1859), revolucionou a ciência ao sugerir que todas as formas de vida evoluíram por meio da seleção natural. Embora o darwinismo tenha sido uma teoria científica, suas ideias foram rapidamente apropriadas por outros campos do pensamento, dando origem ao darwinismo social. Essa adaptação distorcida da teoria darwiniana defendia a ideia de que certas raças e classes sociais eram naturalmente superiores a outras, justificando a desigualdade social, o imperialismo e o racismo.
O racismo, como ideologia, ganhou força no século XIX, influenciado por teorias pseudocientíficas que classificavam as pessoas em hierarquias raciais. Essas teorias foram usadas para legitimar a dominação colonial europeia na África e na Ásia, assim como a opressão de minorias dentro das próprias nações europeias. O pensamento racista foi amplamente difundido na literatura, na política e nas ciências sociais da época, contribuindo para a marginalização e desumanização de milhões de pessoas.
Essas ideias racistas estavam intimamente ligadas ao imperialismo europeu, que se expandiu significativamente durante o século XIX. As potências europeias justificavam suas conquistas coloniais com o argumento de que estavam "civilizando" os povos considerados "inferiores". O darwinismo social forneceu uma base intelectual para essa expansão, promovendo a ideia de que as nações mais "fortes" tinham o direito e o dever de dominar as "mais fracas".
No entanto, o século XIX também foi um período de resistência e contestação a essas ideologias. Movimentos abolicionistas e anticolonialistas começaram a emergir, desafiando as justificativas racistas para a opressão e a dominação. Ao mesmo tempo, o nacionalismo, que inicialmente havia promovido a unificação e a independência, também começou a ser usado como ferramenta de exclusão e xenofobia, exacerbando as tensões entre diferentes grupos étnicos e nacionais.
Em resumo, o século XIX foi marcado por um nacionalismo crescente que moldou a formação de novas nações europeias, ao mesmo tempo em que o pensamento e a cultura foram profundamente influenciados por teorias como o darwinismo e o racismo. Essas ideias tiveram impactos duradouros, tanto no desenvolvimento das nações quanto nas relações sociais e políticas globais.
O século XIX foi um período de grandes transformações na Europa, marcado pelo crescimento do nacionalismo, por revoluções políticas e sociais e pela formação de novas nações. Esses processos estiveram intimamente ligados ao surgimento de ideologias raciais e ao determinismo, que desempenharam papéis fundamentais na justificativa do imperialismo europeu, especialmente na África e na Ásia. O impacto dessas ideologias foi profundo, afetando não apenas as sociedades colonizadas, mas também moldando as políticas e as relações internacionais.
O nacionalismo, que emergiu com força no século XIX, foi impulsionado por ideias de identidade e unidade nacional. Revoluções como a Francesa e as Guerras Napoleônicas inspiraram movimentos em toda a Europa que buscavam a unificação ou independência de povos com laços étnicos, culturais e linguísticos comuns. No entanto, à medida que o nacionalismo se espalhava, ele frequentemente se entrelaçava com ideologias raciais que defendiam a superioridade de certas nações ou raças sobre outras. Esse sentimento de superioridade racial forneceu uma base ideológica para o imperialismo, que se expandiu para além da Europa, com as potências europeias buscando controlar territórios na África e na Ásia.
As ideologias raciais do século XIX eram frequentemente apoiadas por teorias pseudocientíficas que alegavam que a raça determinava o caráter, a inteligência e o valor de uma pessoa ou grupo. Essas ideias foram utilizadas para justificar a dominação e a exploração dos povos colonizados, apresentando-os como inferiores e necessitados de "civilização". O determinismo racial, a crença de que as características biológicas de uma raça predestinavam seu destino, tornou-se um conceito central no imperialismo europeu. Ele sugeria que as nações europeias, por serem consideradas racialmente superiores, estavam destinadas a governar os povos da África e da Ásia.
O imperialismo europeu na África e na Ásia foi moldado por essas ideologias raciais e deterministas. Na África, a Conferência de Berlim (1884-1885) dividiu o continente entre as potências europeias, sem consideração pelas culturas ou fronteiras existentes. Os colonizadores impuseram sistemas de governo e economia que beneficiavam a metrópole, explorando os recursos naturais e a força de trabalho africana. As justificativas raciais para essas ações incluíam a ideia de que os africanos eram incapazes de se governar e, portanto, necessitavam da supervisão europeia.
Na Ásia, o impacto do imperialismo foi igualmente devastador. Potências como o Reino Unido, a França e a Holanda estabeleceram vastos impérios coloniais, dominando regiões como a Índia, Indochina e Indonésia. O determinismo racial foi usado para reforçar o controle sobre essas populações, apresentando os asiáticos como "primitivos" ou "atrasados" em comparação aos europeus. Essa visão justificava a exploração econômica e a imposição de sistemas educacionais e culturais que promoviam a cultura europeia em detrimento das tradições locais.
As consequências dessas ideologias raciais e do determinismo no contexto do imperialismo foram profundas e duradouras. A divisão arbitrária de territórios na África resultou em conflitos étnicos e fronteiriços que persistem até hoje. Na Ásia, o legado colonial deixou marcas profundas nas estruturas políticas e sociais, além de uma resistência contínua contra o domínio estrangeiro. Além disso, as ideologias raciais e deterministas contribuíram para a marginalização e opressão de milhões de pessoas, criando desigualdades que ainda moldam as relações internacionais.
Em suma, o nacionalismo e as revoluções europeias do século XIX, ao se entrelaçarem com ideologias raciais e o determinismo, forneceram uma justificativa poderosa para o imperialismo europeu na África e na Ásia. O impacto dessas ideologias foi devastador, deixando um legado de exploração, opressão e conflito que continua a influenciar o mundo contemporâneo.
O século XIX marcou o auge do capitalismo industrial, uma nova ordem econômica que transformou profundamente as relações globais e a organização das economias ao redor do mundo. À medida que a Europa se industrializava rapidamente, surgiram novas demandas por matérias-primas, mercados e mão de obra, o que levou a uma exploração intensiva das economias africanas e asiáticas. O imperialismo europeu, motivado pelo desejo de atender a essas demandas, teve impactos profundos e duradouros sobre as comunidades locais na África e na Ásia.
A Revolução Industrial na Europa gerou uma demanda sem precedentes por matérias-primas, como borracha, algodão, óleo de palma, minerais e outros recursos naturais que eram abundantes nas colônias africanas. Esses produtos eram essenciais para a produção industrial e para o crescimento econômico das nações europeias. Por exemplo, a borracha, extraída principalmente da África Central, era vital para a fabricação de pneus e outros produtos industriais. O óleo de palma, produzido na África Ocidental, era amplamente utilizado na produção de sabão, velas e lubrificantes.
Para garantir um fornecimento contínuo desses recursos, as potências europeias estabeleceram colônias na África e na Ásia, onde reorganizaram as economias locais para atender às suas necessidades industriais. As comunidades locais foram forçadas a abandonar suas práticas agrícolas tradicionais para se concentrar na produção de culturas comerciais destinadas à exportação. Isso resultou em uma economia de enclave, onde vastas áreas de terra eram dedicadas à produção de um único produto para o mercado europeu, em detrimento da produção de alimentos para as populações locais.
A exploração econômica das colônias teve consequências devastadoras para as comunidades africanas. As estruturas sociais e políticas tradicionais foram desmanteladas, e as terras comunais foram frequentemente expropriadas para o uso de empresas europeias. A introdução de sistemas de trabalho forçado, como a "corveia", obrigou muitos africanos a trabalhar em condições desumanas nas plantações, minas e outras indústrias. Esse tipo de exploração resultou em pobreza generalizada, fome e desestabilização social.
Além disso, a exploração econômica também teve um impacto significativo na forma de organização das sociedades africanas e asiáticas. As elites locais, muitas vezes cooptadas pelos colonizadores, passaram a desempenhar um papel de intermediárias entre os europeus e as populações locais, garantindo que os interesses europeus fossem atendidos. Isso contribuiu para o aumento das desigualdades sociais e para a fragmentação das sociedades tradicionais.
Na Ásia, as dinâmicas econômicas foram semelhantes, com a imposição de culturas comerciais, como o chá, o café, o algodão e o ópio, que eram essenciais para o comércio global. A Índia, sob domínio britânico, tornou-se um exemplo claro dessa exploração, com vastas áreas de terra sendo dedicadas à produção de algodão e outras culturas de exportação, enquanto a população local enfrentava pobreza e fome.
Em conclusão, as demandas do capitalismo industrial europeu redefiniram as economias africanas e asiáticas, colocando-as em um papel subalterno nas dinâmicas globais. Os principais produtos extraídos dessas regiões, como borracha, óleo de palma e algodão, foram cruciais para o desenvolvimento industrial europeu, mas tiveram um custo humano e social enorme para as comunidades locais. A reorganização econômica e a exploração intensiva deixaram um legado de desigualdade, pobreza e dependência que continua a influenciar essas regiões até hoje.
No final do século XIX e início do século XX, o imperialismo europeu atingiu seu auge com a partilha da África e da Ásia entre as potências coloniais. Este período foi marcado pela Conferência de Berlim (1884-1885), que formalizou a divisão do continente africano entre as nações europeias, e pela expansão do controle colonial sobre vastas áreas da Ásia. Embora os europeus tenham imposto sua dominação com grande força militar e econômica, as populações locais desempenharam um papel crucial na resistência ao imperialismo, utilizando diferentes estratégias para lutar contra a opressão colonial.
A partilha da África, também conhecida como "Scramble for Africa", foi um processo no qual as potências europeias, incluindo Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica e Portugal, dividiram o continente africano em esferas de influência. As fronteiras traçadas pelos europeus ignoraram as realidades étnicas, culturais e políticas das sociedades africanas, resultando em conflitos que perduram até os dias atuais. No entanto, as populações locais não aceitaram passivamente a dominação estrangeira. Movimentos de resistência, liderados por figuras como Samori Touré na África Ocidental, Menelik II na Etiópia e os Zulus na África Austral, desafiaram o avanço colonial com vigor.
Na Ásia, o imperialismo europeu também encontrou resistência significativa. Na Índia, o domínio britânico foi contestado por revoltas como a Revolta dos Sipaios em 1857, que representou um marco na luta pela independência. Na China, a resistência ao imperialismo se manifestou através de movimentos como a Rebelião dos Boxers (1899-1901), que se opôs ao controle estrangeiro sobre o país. No Sudeste Asiático, figuras como o rei Chulalongkorn da Tailândia conseguiram preservar a independência de seu país por meio de uma política de modernização e diplomacia cuidadosa.
A resistência ao imperialismo na África e na Ásia assumiu diversas formas. Em alguns casos, as populações locais organizaram revoltas armadas, utilizando táticas de guerrilha e aproveitando seu conhecimento do território para resistir às forças coloniais. Em outros casos, a resistência foi mais sutil, envolvendo a preservação de tradições culturais, a prática de religiões nativas e o uso da diplomacia para negociar melhores condições sob o domínio colonial.
Um dos exemplos mais notáveis de resistência bem-sucedida na África foi a Batalha de Adwa, em 1896, onde o exército etíope, liderado por Menelik II, derrotou as forças italianas e garantiu a soberania da Etiópia. Este evento se tornou um símbolo de resistência africana e desafiou a narrativa europeia de superioridade racial e militar. Na Ásia, a vitória do Japão sobre a Rússia na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) inspirou movimentos anticoloniais em toda a Ásia e África, demonstrando que as potências europeias poderiam ser derrotadas por nações não ocidentais.
As resistências locais ao imperialismo europeu não apenas desafiaram o domínio colonial, mas também contribuíram para a formação de identidades nacionais e movimentos de independência que floresceriam no século XX. Embora muitas dessas resistências tenham sido brutalmente reprimidas, elas deixaram um legado duradouro de luta e esperança que inspirou gerações subsequentes a continuar a busca pela liberdade e autodeterminação.
Em resumo, o imperialismo europeu na África e na Ásia foi um período de dominação e exploração, mas também de resistência e protagonismo das populações locais. A resistência a essa dominação variou de confrontos militares diretos a formas mais sutis de preservação cultural e negociação diplomática. A análise dessas resistências revela a complexidade das interações entre colonizadores e colonizados e destaca a importância do protagonismo local na história das lutas anticoloniais.